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O caminho das pedras de Fernando Zancanaro A trajetória impressionante do construtor de empresas

O caminho das pedras de Fernando Zancanaro

A trajetória impressionante do construtor de empresas

 

O valor do dinheiro foi a primeira lição que Fernando Zancanaro lembra ter aprendido. Aos oito anos já guardava os trocos de pagamentos de água, luz, telefone e outros boletos de casa que ele pagava em bancos. O trabalho seduziu-o desde cedo também. Tentou vender picolé, o que o pai não deixou. Então conseguiu trabalho aos 10 anos numa fábrica de caminhões de brinquedos de madeira. Estudava de manhã, à tarde fazia o trabalho de banco e das seis às dez da noite lixava madeira utilizada na fabricação dos caminhões, a remuneração era um X salada e um refrigerante. Estudou para padre entre os 13 e 15, concluiu o segundo grau aos 17 anos, foi aprovado em psicologia, mas trocou o estudo pelo trabalho.
A despeito das dúvidas familiares e de pessoas próximas que previram-no como um singelo motorista de caminhão no futuro, por abandonar os estudos em favor do trabalho, a troca foi amplamente benéfica. Ao ouvi-lo contar sua trajetória tem-se a impressão que falta mesmo um cognome que o relacione às compras, tal são os números de aquisições que incorporou ao seu negócio. Ocorre-me, a propósito, um livro em que o personagem utilizava da habilidade do cálculos para resolver situações, cujo título é “O Homem que Calculava”. Fernando Zancanaro comprando caminhões, máquinas e empresas, como se verá na leitura, seria “O Homem que Comprava”.
Do primeiro caminhão caçamba usado à moderna frota de 150 caminhões e máquinas do parque atual, em que emprega 170 funcionários, num grupo de oito empresas e participações societárias em outras nas áreas de terraplanagem, pedreira, asfalto, concreto, energia e incorporadora de loteamentos, Fernando Zancanaro construiu e constrói uma história de sucesso com a crença e a força no trabalho aliado ao instinto de investidor inquieto, agressivo até.

Com o apoio do pai Izauro Zancanaro, Fernando deu o carro de entrada e parcelou a compra do primeiro caminhão caçamba de um empresário que estava com alguns caminhões parados por falta de obras. O vendedor do caminhão propôs-se a ensinar-lhe o serviço, ajudar-lhe. “Ele conseguiu o primeiro serviço que fizemos juntos; o segundo serviço eu mesmo consegui”, destaca. Fernando conseguiu também o terceiro serviço, para si e também ao empresário que lhe vendeu o caminhão, retribuindo a ajuda inicial ao parceiro. Era fim de1998.
Imprimindo um rush formidável de obras no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, onde ficou seis meses diretos numa sequência de serviços. Mais, morou cinco anos no caminhão de 1999 a 2003. Isso mesmo, dormia e comia na cabine. O prato não variava, sempre pão com sardinha e marmitex. O ruim era no inverno. “A diferença de temperatura dentro e fora suava o teto da cabine, gotas geladas caiam no cobertor e na cabeça”. O princípio da economia com a revelação que a pratica é comum com os motoristas nesse trabalho diminuem o impacto da revelação, que mesmo assim impressiona.
.O sacrifício deu resultados. Em 2004, ele já tinha quatro caminhões. Nas obras em Caçador (SC) conheceu o engenheiro Rodrigo Siliprandi, com experiência na área de redes de esgoto e similares, em que pretendia entrar. Juntos deram início à Terraplanagem Zancanaro. “As duas primeiras maquinas que adquirimos eram inéditas em empresas da região, só prefeituras tinham retroescavadeira e escavadeira hidráulica”. Ambas compradas com dinheiro emprestado. Para compra da segunda máquina pediu dinheiro emprestado para muitos. E deu garantia adicional e incomum pelo menos ao emprestador. “Fiz seguro de vida com o prêmio em nome do financiador”.
Passou também por momentos difíceis nos anos seguintes, como na compra de uma pá carregadeira que mais vazava óleo do que trabalhava. O pior foi a crise a partir de 2005, o mercado ficou muito difícil. Ficaram apenas duas das quatro empresas de terraplanagem da cidade. Mesmo na crise, no entanto, haviam obras a serem feitas. E houve arrojo de Zancanaro, então com 24 anos, para investir. “Comprei uma pá carregadeira nova, assumi até então a maior dívida da minha vida”, para estancar os juros altos ganhou dois terrenos da parte da herança da mãe, dona Lucia, e quitou parte da dívida.
Mesmo com a crise e com o negócio desaquecendo, Zancanaro não se retraiu, pelo contrário, manteve o ritmo de crescimento com aquisição de novos maquinários às custas – e dos perigos – do forte endividamento, aumentando o parque com mais uma escavadeira em 2007 e um Komatsu PC 160 2007, a top da linha, em 2008. “Eu fui comprando, minha dívida sempre aumentando”. A aposta era na retomada do negócio, que voltou em 2009 e 2010 e com as obras de ponta do grupo Guerra em Pato Branco e Guarapuava. A propósito, comprou mais duas escavadeiras e dois tratores de esteira nesse intervalo.
Ainda no ano de 2010 Zancanaro começou a estruturar empresa de pavimentação para se habilitar em obras de asfalto na região. Venceu licitações no ano seguinte, porém ficou sem capital de giro e sem insumos para as obras. Com dívidas e dificuldade de financiamento via bancos de fomento, recorreu a amigos. “Ricardo Guerra me emprestou sem qualquer garantia”, diz com gratidão ao diretor do grupo Guerra.
O biênio 2012 e 2013 foi marcado com a com a aquisição de 10 máquinas de uma só vez, fazendo da Terraplanagem Zancanaro referência na região. E com o apoio de engenheiro Ivo Netto Di Cicco iniciou o projeto de instalação de uma unidade de britagem. Mais uma vez sem crédito de instituições financeiras públicas, Zancanaro socorreu-se com amigos, e histórico de compras na Paraná Equipamentos S.A, de onde veio a solução: “o engenheiro Rogerio Borio deu aval total ao Banco Caterpillar do dinheiro para compra e montagem do britador”.

O triênio seguinte (2014, 2015, 2016) começou com o convite de Ricardo Guerra para sócio cotista em uma pequena central hidrelétrica (PCH), era Fernando Zancanaro entrando no segmento de energia. A inadimplência no setor público, contudo, apertou-lhe mais uma vez, mas o amigo e cliente Julinho Tonus, presidente da Coopertradição, viabilizou o empréstimo naquele momento.

Em meio à crise de 2015 surgiu o convite de alguns clientes da empresa de terraplenagem para parceria de um loteamento, surgia assim a Caviza Incorporadora. O sucesso desse empreendimento atraiu novos investidores, surgindo a Green Incorporadora com vários loteamentos em Pato Branco e região.
Mesmo com os percalços da economia e dificuldades de crédito também em 2016, o empresário tirou do papel o projeto da central de concreto Zmix Concreto e Argamassa, que iniciou atividades no início de 2017. Nesse mesmo ano, deu andamento numa nova PCH, que estava paralisada há vários anos. “Eu e um dos sócios, o empresário Evandro Chiocheta, trabalhamos muito, mas a colocamos em operação a Pequena Central Hidrelétrica em um ano e sete meses”.
Tempo de repensar

Fernando Zancanaro manteve esse ritmo alucinante em que abdicou prazeres de fases importantes da vida, fez sacrifícios pessoais e familiares que lhe são caros. Reconhece que ficou viciado em trabalho, que começa um processo de que mudança agora fez 40 anos. Deixa de forma gradativa de trabalhar aos sábados, valoriza mais a saúde, mais qualidade de vida, que prepara o comando e a continuidade da empresa. Que quer viver mais com a família, fala com admiração da esposa Adriane Arcari Zancanaro, dos filhos Vinicius (6) e Carolina (4), lembra das lições da mãe, dona Lúcia, do apoio do pai Izauro.
Retoma o tempo de criança em que tudo era contado, que para ele comprar algo diferente do básico, tipo um pão francês, mortadela, ketchup e maionese, tinha que pedir licença no abacateiro do vizinho e vender os abacates no mercado. “Consegui muito mais do que imaginei. E faria tudo de novo”, diz convicto, orgulhoso. No fim da entrevista, projeta 10 anos à frente nessa nova fase.
Especula como vai estar, pergunta-me sorrindo como acho que ele vai estar aos 50 anos. Respondo que por certo, vai aproveitar partes boas da vida com a família, com a tranquilidade que conquistou.
E, ah, de vez em quando vai comprar um caminhão caçamba, uma escavadeira acolá, criar uma empresa acolá, tornar-se sócio de outra... Confesso que só pensei, não lhe falei deste parágrafo final, só pensei.

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